Música, filosofia e transcomplejidade: uma conjunção entre o homem,
a melodia, o pensamento e a realidade
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Revista Digital de Investigación y Postgrado, 5(9), 177-184
ISSN electrónico: 2665-038X
Pensamento e melodia: dois lados da mesma moeda
Desde o início da humanidade, a música tem sido uma expressão primordial da criatividade e
curiosidade do indivíduo. Desde a pré-história, quando o homem nômade via a caça e a coleta
como meios de sobrevivência, até os tempos modernos, em que o homem constrói rotas ou
escadas para se conectar com as estrelas em mais de um sentido, a música sempre esteve pre-
sente. Assim, é uma expressão que, apesar das limitações, falibilidades e defeitos do homem,
é um exemplo notável de sua grandeza.
A música é, assim como o pensamento, uma expressão em constante evolução, resultado de
sua natureza inacabada e adaptativa, um produto de um eterno vai e vem. Ela visa expressar
sentimentos, emoções, situações e outros eventos da realidade. A vida em si representa uma
jornada envolvida em múltiplas melodias e formas de pensar, ambas sendo formas harmônicas
dotadas de seu próprio sentido de beleza e verdade. Elas partem do nascimento e levam a ca-
minhos incertos, envoltos em uma aura de mistério e espiritualidade.
Visto dessa forma, o homem em sua jornada encontra várias melodias e maneiras de pensar.
Cada uma está sujeita a diferentes formas de conceber, interpretar e construir a realidade. Sua
natureza filosófica o impede de aderir a uma forma específica; pelo contrário, aponta para a
multiversalidade, um construto que segue um fio narrativo entre diferentes realidades, impul-
sionado pela diversidade de formas de pensar, sentir e ver. Assim como a filosofia, a música
não se desvia dessa realidade. Ela se concentra em moldar e transformar o ser humano em
várias etapas da vida, com ambas resultando em maneiras de erigir beleza, verdade e singu-
laridade, tudo sob o conceito de harmonia. As primeiras interpretações musicais foram inspi-
radas pela mimese, uma postura que capturava sons e buscava recriá-los, resultando em uma
representação do mundo natural através das capacidades musicais do homem.
É assim que o mundo natural representa para o homem uma base ontológica para entender
certos eventos e fornecer explicações. A partir disso, Pitágoras vê a música como uma ciência
da proporção, que, através de 4 números inteiros ou texturas, oferece uma natureza puramente
matemática e racional, formando o pitagorismo musical.
Nicola (2008) descreve-o como uma
doutrina hermética que baseia o conceito de harmonia e sua presença na natureza de maneira
matemática, impedindo qualquer posição contrária. Essa harmonia permite outras aplicações,
como destaca
Aguilar (2017), para a catarse e a atenção aos 4 humores, aspectos que reforçam
sua característica especulativa.
No entanto, apesar dessa aparência instrumental e/ou especulativa, é evidenciada uma parcela
da realidade onde a música não segue totalmente uma fundamentação matemática. Embora
tenha um caráter racional, ela também tem um caráter sensível e até cultural, prevendo novas
maneiras de visualizá-la e interpretá-la. Além da música, a partir do mundo natural, o homem
concebeu um conjunto de ciências chamadas naturais ou exatas que, baseadas na explicação
ou "Erklaren", formulam uma relação causa-efeito, uma lógica formal que, através da objetivi-
dade, determinismo e verificação, estabelece mecanismos rigorosos para estudar a realidade.