A pesquisa de doutorado: a narrativa,
uma elaboração intelectual matizada
pela interdisciplinaridade
e complexidade
La investigación doctoral: la narrativa, una
elaboración intelectiva matizada por la
interdisciplinariedad y la complejidad
*Professor Emérito da Universidade dos Andes - Táchira, Venezuela. Advogado, Doutor em Educação e Pós-
Doutor em Pesquisa. Categoria Titular. Ex-coordenador Acadêmico. Pesquisador. E-mail:
adrianfilidi@gmail.com.
Como citar: Contreras, C. A. F. (2024). A pesquisa de doutorado: a narrativa, uma elaboração inte-
lectual matizada pela interdisciplinaridade e complexidade. Revista Digital de Investigação e Pós-
graduação, 5(9), 63-86. https://doi.org/10.59654/eebne822
Revista Digital de Investigación y Postgrado 5(9), 63-86
ISSN electrónico: 2665-038X
Adrián Filiberto Contreras Colmenares*
https://orcid.org/0000-0001-6711-3649
San Cristóbal, estado Táchira / Venezuela.
Recebido: Maio/11/2023 Revisado: Maio/25/2023 Aceito: Julho/21/2023 Publicado: January/10/2024
https://doi.org/10.59654/eebne822
Resumo
A narrativa que emerge do desenvolvimento de uma pesquisa de doutorado nos dias de hoje
deve ser concebida considerando aspectos como interdisciplinaridade e complexidade. Além
disso, é crucial compreender a importância da multiperspectividade e da multicontextualidade.
Diante desse critério, a intenção deste discurso é refletir sobre como o pesquisador deveria
transformar o processo de escrita ao relatar resultados, com base na abordagem do objeto re-
conhecível. A dissertação se fundamenta na análise de uma literatura valiosa, associada à pes-
quisa documental, bem como nas reflexões e máximas das experiências pessoais do indivíduo
que realiza este discurso intelectual. Como uma verdade provisória, aspiramos a continuar
nesse caminho para aprofundar a necessidade de transformar o pensamento sensível dos pes-
quisadores em teses de doutorado, dos orientadores (ou diretores de tese) e dos membros do
júri, árbitros ou integrantes de um tribunal doutoral.
Palavras-chave: narrativa, pesquisa de doutorado, complexidade, interdisciplinaridade, muti-
perspectividade, multicontextualidade.
Resumen
La narrativa que surge del desarrollo de una investigación doctoral, en la actualidad ha de estar
pergeñada de aspectos como la interdisciplinariedad y la complejidad. Aunado a ello, compren-
der la importancia de la multiperspectividad y la multicontextualidad. En atención a este criterio
precedente, la intencionalidad de este discurrir es la de reflexionar acerca cómo debe haber una
transformación del proceso escritural por parte del investigador cuando reporte los hallazgos,
a partir del acercamiento al objeto cognoscible. La disertación realizada se ha fundamentado
en la revisión de literatura valiosa, con lo cual se asocia a la investigación documental; así como
las cogitaciones y máximas de experiencias personales de quien realiza este discurso intelectivo.
Como verdad provisional: se aspira a seguir en esta línea de pensamiento para profundizar sobre
la necesidad de transformar el sentipensar de los investigadores de tesis doctorales, de los tutores
(o directores de tesis) y de los jurados, árbitros o integrantes de un tribunal doctoral.
Palabras clave:
narrativa, investigación doctoral, complejidad, interdisciplinariedad, multipers-
pectividad, multicontextualidad.
Prologo
Enfrentar a escrita de um relatório de pesquisa doutoral muitas vezes se torna complexo e ad-
quire certo grau de dificuldade. Isso pode ser atribuído a várias questões, desde um simplismo
epistemológico, a denotação linguística derivada da informação visual limitada contida no hi-
pocampo, até a falta de domínio na escrita. No que diz respeito a este último aspecto, a difi-
culdade se manifesta na negligência da sintaxe e na elaboração dos parágrafos; portanto, ideias
são apresentadas sem levar em consideração a coerência, coesão e conexão. Além disso, ex-
ternamente, está-se sob o critério da ditadura acadêmica imperante, seja dos orientadores (di-
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retores de tese), dos jurados (membros de um tribunal de doutorado), que se erguem como
ícones da intelectualidade, cujas ideias devem ser assumidas ad litteram. Portanto, não permi-
tem uma construção de discurso criativo.
Essas considerações levam à elaboração da tese doutoral com um vocabulário limitado, muito
preciso, bastante denotativo e sem impulsionar a ποίησις (poiesis) como pulsão da linguagem
conotativa, que emerge do domínio lexical baseado em leituras conscientes e reflexivas. Seu
conteúdo deve ser compreendido e internalizado de maneira que permita ao pesquisador es-
crever com fluidez. Portanto, neste desenvolvimento, procurou-se aprofundar em aspectos re-
lacionados à elaboração da tese doutoral. Esses aspectos incluem: o que deve ser entendido
por pesquisa; o progresso da disciplinaridade para a interdisciplinaridade. Da mesma forma,
foi valorizada a multiperspectividade e a multicontextualidade como dimensões que possibilitam
uma compreensão mais rica de todos os atos comunicacionais.
Não se pode deixar de lado a complexidade, cujo critério fundante é a interdisciplinaridade. E, a
partir dessa consideração, a narrativa adquirirá outros matizes muito mais profundos e com uma
riqueza cognitiva que transformará a caracterização das descobertas em uma prosa poética de
qualidade. Finalmente, espera-se que aqueles que pesquisam possam explorar este desenvolvi-
mento acadêmico para transformar sua maneira de sentir e pensar e, assim, possam deixar sua
marca no discurso que leva à formalidade da apresentação de uma narrativa doutoral brilhante.
A pesquisa em teses doutorais
Os processos de pesquisa na construção do conhecimento em teses doutorais exigem outras
abordagens, atitudes investigativas e novas perspectivas holográficas, que levem o pesquisador
a estabelecer conectividade nos diferentes níveis: macro, meso e micro, por meio de um dis-
curso que emerge do encontro com o fenomênico. Tudo isso deve ser fundamentado na inte-
ligibilidade e compreensão de que esses níveis devem estar perfeitamente coesos, e, portanto,
cada um deles revela, brilha e fulge um ato intelectual, revestido de complexidade, devido à
inter-relação com outros níveis, com outros elementos, com outras facetas que fazem parte
do fenômeno que é objeto de conhecimento.
E é que, no fenomênico, como afirmam
Bonil et al. (2004: 5):
…convergen multitud de elementos, y múltiples y variadas interacciones en procesos en los
que el dinamismo es constante. Un mundo en que la interacción entre la perspectiva social
y la natural ha dado lugar a un modelo de organización social que refleja una crisis profunda
1
.
1
Tradução nossa ...convergem uma multidão de elementos e interações múltiplas e variadas em processos nos quais o
dinamismo é constante. Um mundo em que a interação entre a perspectiva social e a natural deu origem a um modelo
de organização social que reflete uma crise profunda
.
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Para adentrar nesse ato intelectual, partimos da definição de pesquisa, o que pode parecer
óbvio. No entanto, é valorizado como pertinente, conveniente, em suma: necessário. Nessa
orientação, pesquisar é um vocábulo que pode ser adjetivado como polissêmico. Sua primeira
adscrição está no termo vestigium, que, segundo o
Etimologías de Chile (2023: 1), ".…se refería
a la planta o suela del pie, [vale indicar, se vinculaba] con la marca que dejaba el pie en la tierra
y después a la indicación de que alguien había caminado por allí"
2
Translativamente, pode-se
dizer que dela emerge a expressão investigare. Esse verbo latino, de acordo com Ander-Egg
(1995: 57): "…proviene del latín in (en) y vestigare (hallar, inquirir, indagar, seguir vestigios) lo que
conduce al concepto más elemental de descubrir o averiguar alguna cosa, seguir la huella de
algo, explorar"
3
E dessa adscrição eidética pode-se resgatar o conceito de descobrimento e ex-
ploração, para fazer referência, com ela, ao ato de pesquisa.
Com base no exposto, pode-se afirmar, conforme
Ander-Egg (1995: 57), que, se se trata de en-
contrar o horizonte desse termo, pode-se indicar que, no que diz respeito à sua aplicabilidade,
estará em uma esfera, em um contexto ou "âmbito" com ações plurais e práticas que podem
ser realizadas “…desde [las actividades que ejecuta] el detective [hasta el acto que realiza] el cien-
tífico"
4
É amplo o espectro de utilização da expressão pesquisar. Em congruência com esse ato
intelectual discursivo, a referencialidade está situada no plano da pesquisa científica. Ou seja,
no caso singular de reflexão, versa sobre o ato de elaboração da tese doutoral.
Assim sendo, aprofundar-se nesse ato - a investigação ou pesquisa - pode-se dizer que tende
a ser considerado como um processo ou um procedimento. E sob a consideração de procedi-
mento,
Ander-Egg (1992: 57) afirma:
...la investigación es un procedimiento reflexivo, sistemático, controlado y crítico que tiene
por finalidad descubrir o interpretar los hechos y fenómenos, relaciones y leyes de un de-
terminado ámbito de la realidad; [es] una búsqueda de hechos, un camino para conocer
la realidad, un procedimiento para conocer verdades parciales, -o mejor, para descubrir
no falsedades parciales.
2
Tradução nossa: ...se referia à planta ou sola do pé, [vale ressaltar, estava vinculado] à marca que o pé deixava
na terra e depois à indicação de que alguém havia passado por ali.
3
Tradução nossa: procede do latim in (em) e vestigare (encontrar, inquirir, indagar, seguir vestígios), o que leva ao
conceito mais elementar de descobrir ou averiguar algo, seguir a trilha de algo, explorar..
4
Tradução nossa: ...desde [as atividades executadas] pelo detetive [até o ato realizado] pelo cientista.
5
Tradução nossa: ...a pesquisa é um procedimento reflexivo, sistemático, controlado e crítico que tem como fina-
lidade descobrir ou interpretar os fatos e fenômenos, relações e leis de um determinado âmbito da realidade; [é]
uma busca de fatos, um caminho para conhecer a realidade, um procedimento para conhecer verdades parciais,
ou melhor, para descobrir não falsidades parciais.
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Nota-se a reflexividade, a sistematicidade que deve assistir o pesquisador no ato hermenêutico
das descobertas relacionadas ao objeto de conhecimento. E com base nessa hermenêusis re-
alizada pelo pesquisador, apoiado na prolífica literatura encontrada, ele procederá a revelar,
por meio de um diálogo exquisitamente estruturado, a compreensão explicativa ou a explicação
compreensiva do fenômeno que foi parte do objeto de conhecimento, na medida em que ele,
sujeito cognoscente, se aproximou desse objeto cognoscível para explicá-lo, compreendê-lo
e, até mesmo, transformá-lo.
Sob essa orientação, como afirma
Grajales (2000: 2):
...o pesquisador deve contribuir com um alto senso de ordem, constância e cuidado me-
ticuloso característico daqueles que desenvolveram um alto grau de responsabilidade. A
honestidade é um valor indispensável na verdadeira pesquisa, dado o esforço e sacrifício
que representa a busca pela verdade e a constante oportunidade de descuidar dos de-
talhes.
Dentro do discurso escrito, é necessário, então, utilizar a afirmação anterior como apoio para
registrar a responsabilidade que o pesquisador de uma tese doutoral tem em estabelecer uma
ordem para explicitar seu pensamento científico. Como afirma
Contreras (2023: 27):
La investigación, en ciertos niveles académicos, debe trascender lo convencional y el sen-
cillo acto de revelar los hallazgos. La narrativa científica debe estar matizada de comple-
jidad; además, ha de estar guiada por un sintagma problematizador, un sintagma
teleológico y un sintagma ontológico-epistemológico; ellos imbrican una arquitectura
transmetódica y compleja para el descubrimiento del saber...
7
Poderíamos ampliar esse critério anterior com a afirmação centrada na concretização da pes-
quisa; ou seja, seu relatório científico, que deve ultrapassar o discurso meramente denotativo
e simplificador, para aprofundar nas facetas de um discurso mais profundo. Uma narrativa, um
relato, um posicionamento apreciativo que pode e deve se revestir de ποίησις (poiesis): criação,
criatividade, um fazer diferente, uma poesia. Poesia é criação.
Platon (2016: 34) concorda: "'Poe-
6
Tradução nossa: …el investigador debe aportar un alto sentido de orden, constancia y cuidado meticuloso propio
de aquellos que han desarrollado un alto grado de responsabilidad. La honestidad es un valor indispensable en
la verdadera investigación dado el esfuerzo y sacrificio que representa la búsqueda de la verdad y la constante
oportunidad para descuidar los detalles.
7
Tradução nossa: A pesquisa, em certos níveis acadêmicos, deve transcender o convencional e o simples ato de
revelar descobertas. A narrativa científica deve ser matizada pela complexidade; além disso, deve ser guiada por
um sintagma problematizador, um sintagma teleológico e um sintagma ontológico-epistemológico; eles imbricam
uma arquitetura transmetódica e complexa para a descoberta do saber...
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sia', de fato, se refere apenas a isso, e àqueles que possuem essa porção de 'criação', 'poetas'."
8
Portanto, o pesquisador na expressividade do relatório de sua tese deve se firmar na criação.
Ele pode aproveitar sua imaginação, sua criatividade, sua poesia.
É claro que é preciso compreender que a palavra poesia possui diversas acepções, mas essencialmente,
sob o critério de criação e, em correspondência com isso, o próprio
Platon (2016: 34) expressa:...
…el concepto de “creación” es algo muy amplio, ya que ciertamente todo lo que es causa
de que algo, sea lo que sea, pase del no ser al ser es “creación”, de suerte que todas las
actividades que entran en la esfera de todas las artes son creaciones y los artesanos de
éstas, creadores o “poetas”
9
.
Portanto, como poiesis, a tese doctoral deve ser um ato intelectivo de transcendência, marcado
pela criatividade e originalidade, no qual deve estar presente a enorme responsabilidade que
o pesquisador tem de ser construtor de um conhecimento próprio; esse ato construtivo deve
ter nuances abrangentes, multiversais, transcontextuais e transcendentais. A multiversalidade
deve ser compreendida não apenas na filosofia, pois, nessa área do conhecimento, o multiversal
tende a se referir a um mundo que é valorizado como um mundo necessitado de propósito,
design ou previsibilidade, mas também deve ser fundamentada na física e na cosmologia; assim,
o multiversal está vinculado a um grupo imaginário e hipotético de todos os universos possíveis
que existem e do qual fazemos parte.
É frequente observar, nas pesquisas de doutorado, de acordo com as máximas da experiência,
que se percorre uma comodidade epistêmica e gnoseológica; quer dizer, uma estabilidade
cognitiva baseada em um paradigma redutor, simplificador e hipotetizador. Como refere
Balza
(2020: 52)
, na construção do conhecimento relacionado ao espectro doutoral:
…[en] el pensamiento y praxis investigativa de nivel doctoral, en el campo de las Ciencias
Sociales, pareciera (…) [que se navega] en la corriente de lo simple, pues, muchas veces
se ahoga en el análisis de lo efímero y se alindera en el determinismo y reduccionismo
del pensamiento único; el cual, a su vez, empobrece al mínimo toda realidad y toda idea
nueva e iniciativa del investigador.
10
.
8
Tradução nossa: 'Poesia', de fato, se refere apenas a isso, e àqueles que possuem essa porção de 'criação', 'poetas'.
8
Tradução nossa: o conceito de "criação" é algo muito amplo, uma vez que certamente tudo o que é causa de
algo, seja lá o que for, passar do não ser para o ser é "criação". Portanto, todas as atividades que se enquadram
na esfera de todas as artes são criações, e os artesãos dessas, criadores ou "poetas".
10
Tradução nossa: ...[em]...o pensamento e a prática investigativa de nível doutoral, no campo das Ciências Sociais,
parecem (...) [navegar] na corrente do simples, pois muitas vezes se afoga na análise do efêmero e se alinha no de-
terminismo e reducionismo do pensamento único; o qual, por sua vez, empobrece ao mínimo toda a realidade e
toda ideia nova e iniciativa do pesquisador.
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Muitas vezes, além disso, o pesquisador em formação segue a intencionalidade, o critério de
quem o guia e não sua própria formulação eidética, o que aumenta ainda mais a ditadura aca-
dêmica centrada em uma metodologia própria do indutivismo/dedutivismo. É por isso que,
diante das novas realidades epistemológicas, gnoseológicas e metodológicas que permitem
uma forma diferente de abordar o fenômeno, a busca por uma explicação ou compreensão
do vazio do conhecimento, torna-se necessário assumir a dúvida ontoimplicadora (
Balza, 2020)
- talvez pareça audacioso, mas vou chamá-la de "dúvida ontoorientadora" - pois essa dúvida
se torna o suporte fundamental para discernir sobre o conhecimento e orientar sua construção,
elaboração, concretização em uma tese doctoral.
E como afirma
Contreras (2017: 1): “El desarrollo de una tesis doctoral, muchas veces, en cuanto
reto intelectivo, que concita reflexión, lectura, relectura, escritura y reescritura constante, se ha
tornado en acto agobiante y de preocupación, a veces frustrante, para los participantes e inves-
tigadores noveles”
11
. Portanto, é necessário compreender e enfrentar novos desafios de escrita
e novas maneiras de complexificar a narrativa em teses doutorais, com base na leitura constante
e na reflexão consciente sobre o significado de elaborar o relatório de uma pesquisa doutoral.
Como corolário deste trecho, pode-se indicar que a elaboração de uma tese doutoral, após
ter passado pelo processo de aproximação ao objeto cognoscível, é uma ação intelectiva que
deve ser marcada pelo sentir, pela emocionalidade e pelo domínio do discurso. Esse percurso
se fundamentará nas múltiplas leituras realizadas pelo pesquisador, permitindo-lhe ter uma in-
formação não visual (
Smith, 1989) que impulsionará um ato criativo interessante. Essa informa-
ção registrada no hipocampo é o que o guiará e facilitará a composição de uma narrativa
diferente, inovadora e impactante.
Assim sendo, a pesquisa doctoral e a narrativa que deve se desenvolver devem se sustentar na
valorização do holístico do fenômeno e, consequentemente, explorar o interdisciplinar e as ra-
mificações do pensamento-sentimento complexo do pesquisador. Ou seja, se pensarmos e sen-
tirmos de maneira complexa, nosso objeto de conhecimento ou objeto cognoscível, que se nos
apresenta como sujeitos cognoscentes, como pesquisadores, como construtores de conheci-
mento, não será reproduzido socialmente, mas sim compreendido em toda a sua complexidade.
A disciplinaridade e a interdisciplinaridade
Uma premissa que o pesquisador, que se assume como criador de conhecimento inovador e iné-
dito, deve levar em consideração é valorar aspectos como a disciplinaridade, a interdisciplinari-
dade, a multidisciplinaridade e, por que não, também se aprofundar nos critérios da
11
Tradução nossa: O desenvolvimento de uma tese doctoral, muitas vezes, como um desafio intelectual que en-
volve reflexão, leitura, releitura, escrita e reescrita constante, tornou-se um ato opressivo e preocupante, por
vezes frustrante, para os participantes e pesquisadores novatos."
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transdisciplinaridade. Essas diretrizes têm relevância nos dias de hoje, quando em diferentes ce-
nários estão sendo desenvolvidos estudos de doutorado, com base nas Ciências da Educação,
sem deixar de lado outros doutorados de diversas disciplinas, nos quais o pesquisador insere seu
objeto de conhecimento. A disciplinaridade e a interdisciplinaridade estão ligadas à multiperspec-
tividade e à multicontextualidade, dimensões das quais será feita uma exposição sucinta a seguir.
Devo ressaltar que, até agora, tem-se focado na ideia construtiva do conhecimento por parte
dos pesquisadores, apresentando a particularidade do objeto de conhecimento, sustentado na
atomização do saber de cada disciplina. Cada parcela explica, compreende e transforma sua
fonte de saber. Isso é disciplinaridade. Como afirma
Duque (2000: 7): "Se llama paradigma dis-
ciplinar aquel en donde el conocimiento científico se organiza por disciplinas, las cuales establecen
la división y especialización del trabajo, de acuerdo con los diversos campos de las ciencias”
12
.
Quer dizer, reconhece-se a autonomia de cada ciência; assim, a produção do conhecimento
científico sobre seu objeto cognoscível próprio e verdadeiro é realizada, mas é necessário trans-
cender isso, sem pensar em uma perda de autonomia da disciplina. Pelo contrário, deve-se pen-
sar em uma inter-relação para uma melhor compreensão do fenômeno sendo investigado.
Essa disciplinaridade leva a que o pesquisador seja incentivado a aprofundar dia a dia e com
maior proficiência no objeto de conhecimento de seu campo de estudo. No entanto, embora
esse passo seja importante e, por vezes, necessário para ter domínio profundo do saber disci-
plinar, pode "...llevar consigo um risco de hiperespecialização do pesquisador e um risco de '“
llevar consigo un riesgo de hiperespecialización del investigador y un riesgo de ‘cosificación’ del
objeto estudiado olvidando que tal objeto es una construcción. El objeto de la disciplina será en-
tonces percibido como una cosa en sí"
13
(Duque, 2000: 8). E, como dominador do saber disci-
plinar, isso pode levá-lo a ter amplo e profundo conhecimento sobre o objeto de estudo, mas
muito pouco sobre outros saberes. Assim, assume-se o axioma: "sabe muitíssimo, de muito
pouco". Isso pode significar também que há um oceano de conhecimento, com um centímetro
de profundidade. E isso precisa ser superado.
Portanto, diante desse ato evidente e iminente de coisificação do fenômeno estudado, torna-
se oportuno avançar para a interdisciplinaridade, que se torna o ponto fundamental da com-
plexidade. A coisificação leva a uma reelaboração simbólica do que os seres pensantes fazem
de sua materialidade. E nessa intencionalidade, pode-se chegar a uma "conciencia cosificada o
cósica"
14
(Sierra, 2007: 3).
12
Tradução nossa: Chama-se paradigma disciplinar aquele em que o conhecimento científico se organiza por disci-
plinas, as quais estabelecem a divisão e especialização do trabalho, de acordo com os diversos campos das ciências.
13
Tradução nossa: ..llevar consigo um risco de hiperespecialização do pesquisador e um risco de '“…llevar consigo
un riesgo de hiperespecialización del investigador y un riesgo de ‘cosificación’ del objeto estudiado olvidando que
tal objeto es una construcción. El objeto de la disciplina será entonces percibido como una cosa en sí.
14
Tradução nossa: consciência cosificada ou cósica.
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E como Sierra (2007: 3) explica bem:
La conciencia cósica o cosificada se presenta de dos modos. Por un lado, la reconstrucción
que los sujetos hacen del mundo social la realizan como si se tratase de objetos indepen-
dientes de sus acciones, como si éstos no estuviesen ligados a los primeros sino como si
tuviesen existencia propia. Por otro lado, esta conciencia atribuye a los objetos sociales
existencia independiente, no los puede concebir como inscritos en el devenir histórico so-
cial, sino que los supone provistos de esencialidades atemporales
15
.
Portanto, para transcender esse ato de "consciência cósica", torna-se necessário explorar a inter-
disciplinaridade, como fundamento do progresso da ciência, como critério fundante e suporte en-
fático da complexidade. Com relação à interdisciplinaridade,
Pérez e Setién (2008: 1) afirmam que:
[Ella] constituye uno de los aspectos esenciales en el desarrollo científico actual. No se concibe la
explicación de los problemas sociales desde una concepción científica sin la interacción de las disci-
plinas afines"
16
. E com base nesse fundamento, no que diz respeito à educação, foi criada uma ta-
xonomia chamada Ciências da Educação (Mialaret, 1985). Através delas, em interação, é possível
conceber uma maneira diferente de relatar o que foi encontrado durante a aproximação ao fenô-
meno objeto de conhecimento, de uma maneira mais abrangente.
Em correspondência com isso, é relevante apresentar a apreciação de
Klaassen et al. (2021: 79-
80), que destacaram o seguinte:
Interdisciplinarity can be understood as combining two or more disciplines at the level
of theory, methods, or solution space, to form a transcendent and innovative unders-
tanding or solution, that in turn can possibly transform the mono-discipline(s) (Repko,
2007; Menken & Keestra, 2016; Fortuin, 2015). Two interdisciplinary ways of working can
be distinguished, namely: within a team of experts with different disciplinary back-
grounds, or an individual using the theory, methods and solutions from disciplines other
than their area of expertise in seeking an answer to their research or design questions
17
.
15
Tradução nossa A consciência cósica ou cosificada se apresenta de duas maneiras. Por um lado, a reconstrução que os sujeitos fazem
do mundo social é realizada como se fossem objetos independentes de suas ações, como se estes não estivessem ligados aos primeiros,
mas como se tivessem existência própria. Por outro lado, essa consciência atribui aos objetos sociais existência independente, não pode
concebê-los como inscritos no devir histórico social, mas supõe que estão providos de essencialidades atemporais. [Itálicas no original].
16
Tradução nossa: [Ela] constitui um dos aspectos essenciais no desenvolvimento científico atual. Não se concebe a explicação dos problemas
sociais a partir de uma concepção científica sem a interação das disciplinas afins.
17
Tradução nossa: A interdisciplinaridade pode ser compreendida como a combinação de duas ou mais disciplinas no nível da teoria, métodos
ou espaço de solução, para formar uma compreensão ou solução transcendente e inovadora, que por sua vez pode transformar possivelmente
a(s) mono-disciplina(s) (Repko, 2007; Menken & Keestra, 2016; Fortuin, 2015). Duas maneiras interdisciplinares de trabalhar podem ser distinguíveis,
a saber: dentro de uma equipe de especialistas com diferentes formações disciplinares ou por um indivíduo que utiliza teorias, métodos e
soluções de disciplinas diferentes da sua área de especialização ao buscar uma resposta para suas perguntas de pesquisa ou design.
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Como se pode ler, aponta-se acertadamente a ideia de inter-relação entre duas ou mais disci-
plinas, mas também quando interagem profissionais com experiência em diferentes disciplinas.
Contudo, como se vislumbra, pode ser uma individualidade, um pesquisador ou especialista
que aplica proposições, teorias, procedimentos e respostas de solução de outras disciplinas
para resolver uma situação sobre o fenômeno que está questionando.
Em relação a esta perspectiva de interdisciplinaridade, é prudente e pertinente entender, como
afirma Nicolescu (2003, citado em
Balza, 2020: 56), que ela está relacionada com a:…transfe-
rencia de métodos de una disciplina a otra y se puede distinguir por su grado de aplicación, fun-
damentos epistemológicos y de concepción de nuevas disciplinas”
18
. E, de acordo com isso, Balza
(2020: 60)
expressa: "Esta visão de interdisciplinaridade adquire essa categoria apenas quando
se gera um novo conhecimento proveniente de uma transferência de métodos, técnicas, teorias
e procedimentos"
19
. Com a pesquisa sob o critério interdisciplinar, é possível e necessário chegar
a uma inter-relação entre as diferentes disciplinas do saber, permitindo o agrupamento desses
saberes.
Nessa orientação,
Pérez e Setién (2008: 1) afirmam:
La interdisciplinariedad no es otra cosa que la reafirmación y constante epistemológica
de la reagrupación de los saberes. En la ciencia moderna, la preocupación de sus prin-
cipales exponentes —Galileo, Descartes, Bacon— por la sociedad científica interdisci-
plinaria fue invariable. La diferencia radica sólo en que añadieron a esta agrupación
interdisciplinar la necesidad de una comunicación entre las disciplinas, elemento que
retoma la interdisciplinariedad a mediados del siglo XX. Fueron exponentes de estas
ideas: Gottfried Wilhelm von Leibnitz y Jean Amos Komenski (Comenio). Este último
propuso la pansophia, como pedagogía de la unidad, capaz de eliminar la fragmenta-
ción del saber de las disciplinas
20
.
18
Tradução nossa: ...transferência de métodos de uma disciplina para outra e pode ser distinguida pelo seu grau de
aplicação, fundamentos epistemológicos e concepção de novas disciplinas.
19
Tradução nossa: Esta visão de interdisciplinaridade adquire essa categoria apenas quando se gera um novo conheci-
mento proveniente de uma transferência de métodos, técnicas, teorias e procedimentos.
20
Tradução nossa: A interdisciplinaridade não é outra coisa senão a reafirmação e constante epistemológica da re-
agrupação dos saberes. Na ciência moderna, a preocupação de seus principais expoentes —Galileu, Descartes,
Bacon— com a sociedade científica interdisciplinar foi constante. A diferença reside apenas no fato de que adicio-
naram a essa agrupação interdisciplinar a necessidade de comunicação entre as disciplinas, elemento retomado pela
interdisciplinaridade no meio do século XX. Foram expoentes dessas ideias: Gottfried Wilhelm von Leibnitz e Jean
Amos Komenski (Comênio). Este último propôs a pansophia, como pedagogia da unidade, capaz de eliminar a frag-
mentação do saber das disciplinas
.
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Portanto, no que diz respeito à interdisciplinaridade, também é necessário indicar que foram
feitas várias tentativas de compreender e apreender o dinamismo envolvido na abordagem in-
terdisciplinar. E como bem aponta Peñuela (2005: 49): Nesse processo inter-relacional:
…se pueden encontrar dos lógicas básicas de constitución: una que usa la palabra interdis-
ciplinariedad como eje central acompañada de un adjetivo que da cuenta del aspecto a re-
saltar (cuando se logra especificar), entre las que están: interdisciplinariedad lineal, estructural,
heterogénea, auxiliar, compuesta, complementaria, unificadora, cruzada, isomórfica, paralela,
temática, metodológica, por método, por teoría, por regla, por objeto. Y otra, que se construye
con base en prefijos (raíces griegas y latinas) y en una jerarquía que busca medir el nivel de
interacción alcanzado. En esta encontramos: multidisciplinariedad (multi–D), polidisciplina-
riedad (poli–D), pluridisciplinariedad (pluri–D), transdisciplinariedad (trans–D) y metadiscipli-
nariedad (meta–D), entre otras opciones posibles
21
.
Do exposto, pode-se inferir sobre a pluralidade de abordagens que estão inicialmente ligadas
ao disciplinar. Agora, a abordagem e a elaboração cognitiva, a partir da interdisciplinaridade,
baseiam-se na conjunção metodológica das diferentes disciplinas envolvidas nessa elaboração.
Portanto, é necessário aprofundar uma contemplação não absorta, mas reflexiva, a partir e
com a transdisciplinaridade do objeto de conhecimento. Essa reflexividade dileta supõe assumir
um compromisso progressivo e aprimorador de todas as amarras que limitam o pensamento-
sentimento (
Balza, 2020) humano. Esse pensamentosentimento deve ser fortalecido por meio
de epistemologias emergentes como a transdisciplinaridade e a complexidade. E este é o ponto
focal deste discurso cognitivo: a trans-D (transdisciplinaridade).
Assim, de acordo com a prática cognitiva, a partir e com uma abordagem interdisciplinar, é ne-
cessário transformar a semiótica, orientada por um enquadramento estruturador, para tender a
uma desestruturação e uma desconstrução - método desenvolvido por Derrida, 1960, como citado
na
Encyclopaedia Britannica, 2022: 1), o qual foi definido como: …[to] form of philosophical and li-
terary analysis”
22
; além disso, com a interdisciplinaridade - e com a possibilidade de se basear na
transdisciplinaridade -, deve-se posicionar a resolução dilemática que transcenda o raciocínio, o
qual até o presente tem como apoio uma premissa que contém uma opção de dois termos, en-
21
Tradução nossa: ...podem-se encontrar duas lógicas básicas de constituição: uma que utiliza a palavra interdiscipli-
naridade como eixo central acompanhada de um adjetivo que destaca o aspecto a ser enfatizado (quando é possível
especificar), entre as quais estão: interdisciplinaridade linear, estrutural, heterogênea, auxiliar, composta, complementar,
unificadora, cruzada, isomórfica, paralela, temática, metodológica, por método, por teoria, por regra, por objeto. E
outra que é construída com base em prefixos (raízes gregas e latinas) e em uma hierarquia que busca medir o nível
de interação alcançado. Nesta encontramos: multidisciplinaridade (multi–D), polidisciplinaridade (poli–D), pluridisci-
plinaridade (pluri–D), transdisciplinaridade (trans–D) e metadisciplinaridade (meta–D), entre outras opções possíveis.
22
Tradução nossa: ...[uma] forma de análise filosófica e literária.
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quanto outras premissas alertam que ambos os casos da opção levam ao mesmo desfecho con-
clusivo e essa perspectiva deve ser superada, com uma epistemologia transdisciplinar fundante.
A linguagem com a qual o conhecimento e a teoria conquistados são traduzidos, para serem
compartilhados por meio de uma tese de doutorado, deve superar o denotativo, para ser apre-
sentado de maneira conotativa. Deve apontar para a criação de um léxico educativo e ilustrativo
que resignifique e ressemantize o existente. Deve apoiar-se interdisciplinarmente em áreas
como a linguística, a filosofia, a pedagogia, a teoria dos signos, entre outras, para alcançar esse
discurso transcendente. Assim, deve-se recorrer à semiologia, à semântica, à lexicografia, à
gramática, à sintaxe, aos sintagmas relacionais, aos sintagmas livres e às unidades fraseológicas,
entre muitos outros. Isso requer um domínio linguístico importante e necessário por parte do
pesquisador de doutorado, para que possa romper com as algemas das ditaduras intelectuais
e garantir uma nova maneira de comunicar o conhecimento.
Portanto, como impulso criativo na arte de escrever, para disseminar esse conhecimento que foi
criado, deve-se ter uma visão interdisciplinar. Dessa forma, avança-se e progride na ciência, como
Morin (1984, citado por
Peñuela, 2005: 65) menciona: "La ciencia nunca hubiera sido la ciencia…"
23
...
Portanto, na construção do conhecimento, ergo, da ciência, a interdisciplinaridade parece ser uma
opção, uma epistemologia, que permite a todo pesquisador integrar e correlacionar as disciplinas
existentes e seus métodos correspondentes de abordar seu respectivo objeto de conhecimento.
Por isso, o pesquisador deve ser criativo, sonhador, para questionar os esquemas preconcebi-
dos. Com esse fundamento argumentativo, deve-se mencionar a necessidade de modificar as
ancoragens e esquemas existentes até o momento no que diz respeito à pesquisa de douto-
rado, que tem uma teleologia construtiva de um conhecimento disruptivo e transformador. Isso
deve ocorrer porque se devem levar em consideração “…las interconexiones en el sentido del
complexus de los fenómenos"
24
(Balza, 2020: 63).
Nessa interconexidade estabelecida nos fenômenos, diversas dimensões integradoras dos ob-
jetos de conhecimento podem ser valorizadas.
…ciertas dimensiones, “niveles de realidad” (Nicolescu, 1996), que exigen una actitud dife-
rente, un encuentro con la fractalidad, “una oscilación entre la práctica teorizada y la teoría
practicada” (Ramírez, 1999b), una dialéctica fractal (Ramírez, 1999c) o partir de una “lógica
arborescente”, o lógica sinfónica (Morin, 1984). (Como fueron citaron en
Peñuela, 2005: 68)
25
.
23
Tradução nossa: A ciência nunca teria sido a ciência.
24
Tradução nossa: as interconexões no sentido do complexus dos fenômenos.
25
Tradução nossa: É assim que se encontram certas dimensões, "níveis de realidade" (Nicolescu, 1996), que exigem uma
atitude diferente, um encontro com a fractalidade, uma oscilação entre a prática teorizada e a teoria praticada" (Ramírez, 1999b),
uma dialética fractal (Ramírez, 1999c) ou partir de uma "lógica arborescente" ou lógica sinfônica (Morin, 1984). (Como foram
citados por Peñuela, 2005: 68).
A pesquisa de doutorado: a narrativa, uma elaboração intelectual
matizada pela interdisciplinaridade e complexidade
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Nessa orientação, considerando como devem ser as múltiplas interconexões, quando se trata
de um conhecimento elaborado a partir de uma pesquisa de doutorado, tal construção “…nos
permite un tránsito mental y un despliegue argumental para la resemantización de nuevos cam-
pos de conocimiento en absoluta libertad de pensamiento; es decir, sin resistencias epistemoló-
gicas, conceptuales y lingüísticas”
26
(Balza Laya, 2020: 64). E essa premissa, que se erige como
base para avançar na ciência, ergo, em conhecer o conhecimento, a partir dessa opção de
pesquisa doctoral, reflete uma ação desestruturadora dos esquemas preconcebidos.
Segundo
Balza (2020: 66), esse progresso científico:
…supone deconstruir el conocimiento preexistente relacionado con las temáticas consi-
deradas, tal y como lo plantea González (2007), cuando deja ver, que una tesis doctoral
debe ir más allá de los marcos teóricos analizados; en tanto, el desafío para el tesista es
ampliar los límites teóricos aceptados hasta el momento
27
.
Indubitavelmente, nesse percurso temático plural, a dialética se apresenta como uma necessi-
dade racional para o desenvolvimento de uma pesquisa de doutorado, que, incontestavel-
mente, deve ser revestida, laqueada, caracterizada pela interdisciplinaridade, ergo, pela
complexidade. O simplismo metodológico não comporta o substrato ontoepistemológico que
exala a sabedoria argumentativa fundamentada na realização de interconexões em todas as
dimensões do fenômeno. Através da dialética, formulam-se perguntas e obtêm-se respostas,
que, por sua vez, suscitam novas perguntas. Dessa forma, é necessário “…entender que se está
trabajando con construcciones que trascienden lo disciplinar
28
(Peñuela, 2005: 73). E quando
esse critério for internalizado pelo pesquisador, então, estará fundamentando um discernimento
de complementaridade. Desse modo, assim se advoga e se relaciona com o sentido compreen-
sivo de valorizar o conhecimento científico inter-relacionado, a partir dos critérios argumenta-
tivos, reflexões, discernimento e julgamentos elaborados por cada disciplina.
A esse respeito,
Balza (2020: 68) afirma que:
…todo razonamiento y argumentación (…) necesariamente surge de la ontología discipli-
nar y de la concurrencia interdisciplinaria y multidisciplinaria, en tanto la visión de com-
26
Tradução nossa: ...nos permite um trânsito mental e um desdobramento argumentativo para a ressemantização
de novos campos de conhecimento em absoluta liberdade de pensamento; ou seja, sem resistências epistemo-
lógicas, conceituais e linguísticas.
27
Tradução nossa: ...supõe desconstruir o conhecimento preexistente relacionado aos temas considerados, con-
forme colocado por González (2007), ao indicar que uma tese de doutorado deve ir além dos quadros teóricos
analisados; enquanto o desafio para o tesista é ampliar os limites teóricos aceitos até o momento.
28
Tradução nossa: ....entender que se está trabalhando com construções que transcendem o disciplinar.
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plementariedad traduce una concepción emergente de racionalidad científica que conduce
a superar los límites de las realidades ingenuas desde nuestros pensamientos y de este
modo ensanchar y enriquecer la ciencia
29
.
É um desafio considerável para a comunidade acadêmica e científica, dedicada à construção do conhe-
cimento, transcender os arquétipos e critérios predominantes dos paradigmas regidos pela simplicidade
e pelo denotativo da linguagem. Deve-se ter como ideia primordial adentrar nos interstícios da realidade
noumênica, fenomênica, noosférica e hologógica, os quais, em princípio, são incertos e desconhecidos,
avançando pelos caminhos de uma jornada intrigante, desconhecida, alucinante e instrutiva.
É imperativo reconhecer a presença de um Ser Supremo em nossas vidas para acessar os mean-
dros do conhecimento. Pois Ele, Todo-Poderoso, por meio do Espírito Santo, nos insufla seus
dons de: Sabedoria, Inteligência e Ciência, para compreender, explicar, transformar e interpretar
o conhecimento humano, que é inconcebível. Portanto, deve-se reconhecer que o conhecimento
é valioso, mas nunca nos afasta de Deus; por isso, devemos pedir ao Espírito Santo, -que nos
convida a viver coisas grandiosas-, que possamos viver nesses processos construtivos de com-
preensão interdisciplinar com humildade, fraternidade, nunca na vaidade e na divisão.
Além disso, é prudente, como ser humano, implorar pela humildade, para que não nos van-
gloriemos de coisas que não possuímos, pois é justo reconhecer que somos limitados; portanto,
é necessário e louvável reconhecer nossa ignorância, como fez Sócrates, que …se había dado
cuenta de lo lejos que estaba de ser sabio, de que no sabía nada"
30
(Popper, 2001: 1). E é que
quanto mais conhecemos ou aprendemos, percebemos que é pouco, no universo da ciência,
o que sabemos e que ignoramos muitas, muitíssimas coisas. Por isso, dirá
Popper (2001: 1) "…
debemos hoy seguir construyendo nuestra filosofía del conocimiento sobre la tesis de nuestra
falta de conocimiento, en defensa de la tolerancia, y de principios éticos"
31
. Essas questões devem
ser fundamentais na elaboração de uma pesquisa de doutorado.
A título de uma verdade relativa, -corolário contingencial e provisório-, devo apresentar esta
reflexão: a elaboração do conhecimento, na atualidade, deve estar impregnada pelos paradig-
mas emergentes de interdisciplinaridade e complexidade. Deve-se ter consciência da impor-
tância implicativa que tem para a ciência um saber produto da dialética, inclusive de uma
trialética ou poliangularidade discursiva, para ser verdadeiramente substantivo no avanço cien-
29
Tradução nossa: ...todo raciocínio e argumentação (...) necessariamente surgem da ontologia disciplinar e da
concorrência interdisciplinar e multidisciplinar, ao passo que a visão de complementaridade traduz uma concepção
emergente de racionalidade científica que leva a superar os limites das realidades ingênuas em nossos pensa-
mentos e, assim, a expandir e enriquecer a ciência.
30
Tradução nossa: ..se deu conta de quão distante estava de ser sábio, de que não sabia nada.
31
Tradução nossa: ...devemos hoje continuar construindo nossa filosofia do conhecimento sobre a tese de nossa
falta de conhecimento, em defesa da tolerância e de princípios éticos
A pesquisa de doutorado: a narrativa, uma elaboração intelectual
matizada pela interdisciplinaridade e complexidade
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tífico. Da mesma forma, a geração de uma teoria deve estar fundamentada em novas catego-
rias, novas tipologias e conceituações que permitam expressar linguisticamente, de outra forma,
a sintagmática relacional. E como bem referem Morin et al. (2002:20): "En la perspectiva compleja,
la teoría está engranada, y el método, para ser puesto en funcionamiento, necesita estrategia,
iniciativa, invención, arte. Se establece una relación recursiva entre método y teoría. El método,
generado por la teoría, la regenera"
32
.
No que diz respeito ao que deve ser considerado a teoria que emerge em uma pesquisa de
doutorado como ação intelectiva de grande alcance e profundidade. Nesta dissertação, con-
cebo a teoria como as elaborações categoriais e noções que permitem explicar, compreender,
interpretar e resignificar a multirrelacionalidade, transparentada na realidade seja noumênica,
fenomênica, noosférica ou hologógica, por meio da transtextualidade, transdisciplinaridade e
ressemantização na multiperspectividade que caracteriza o pensamento complexo e comple-
xificante do sujeito cognoscente: o pesquisador.
É um imperativo - a título de excursão - fazer uma explicação sobre o termo "hologógica",
sua adscrição semiótica está na hologogia. De acordo com
Barrera (2013: 1), ele expressa:
La hologogía corresponde a la comprensión del quehacer profesional y educativo vista
como continuum, a partir de la concepción integral, holista del ser humano, en corres-
pondencia con diversos aspectos existenciales a ser tenidos en cuenta, tales como la con-
dición espaciotemporal, el sentido de la vida, la particularidad de cada quien, la
universalidad de los propósitos humanos, los valores..
.33
Após a descrição do aspecto disciplinar e multidisciplinar, dentro do quadro da comunicação
do conhecimento elaborado, a partir da pesquisa sobre o objeto cognoscível, convém agora
aprofundar em outro elemento que deve fazer parte do discurso de doutorado na concre-
tização do relato investigativo. Estes são a multiperspectividade e multicontextualidade.
Multiperspectividade e multicontextualidade
Deve-se compreender, portanto, que a existência e presença de uma multiperspectividade e
uma multicontextualidade permitirão transformar a prática convencional construtiva do con-
hecimento. Uma única perspectiva, uma única abordagem reduz e limita uma compreensão
32
Tradução nossa: Na perspectiva complexa, a teoria está entrelaçada, e o método, para ser colocado em prática,
requer estratégia, iniciativa, invenção e arte. Estabelece-se uma relação recursiva entre método e teoria. O método,
gerado pela teoria, a regenera.
33
Tradução nossa: A hologogia corresponde à compreensão do fazer profissional e educativo visto como um con-
tínuo, a partir da concepção integral, holística do ser humano, em correspondência com diversos aspectos exis-
tenciais a serem levados em consideração, como a condição espaço-temporal, o sentido da vida, a particularidade
de cada um, a universalidade dos propósitos humanos, os valores...
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mais enriquecedora do fenômeno investigado. Nesse sentido, é necessário superar o axioma
de que se possui um domínio profundo em uma área específica do conhecimento, para assumir
o compromisso e a consciência de um saber plural e amplo, que é alcançado por meio do es-
tudo aprofundado da interdisciplinaridade. De outra forma, se os processos construtivos de
conhecimento não forem revertidos por meio das pesquisas de doutorado, continuaremos
sendo meros reprodutores sociais do conhecimento; o exposto será sempre um reflexo do que
foi elaborado por outros, deixando incólumes as epistemologias dominantes.
Nos tempos atuais, menciona-se "la multiperspectividad, como una forma de reconocimiento
de las diferencias entre los distintos grupos humanos
34
(Souza, 2015: 88). E, a partir dessa pre-
missa eidética, a multiperspectividade pode ser compreendida como representações diversas
orientadas para uma recriação profunda e complexa, provenientes de olhares plurais sobre o
objeto de conhecimento. Isso convoca narrativas distintas, complexificadas, que podem apoiar
o percurso do pesquisador na descrição do conhecimento construído sobre o objeto de estudo,
concretizado no relatório investigativo.
Assim, no relatório investigativo das teses de doutorado, deve-se impulsionar a narrativa mul-
tiperspectiva, conforme relatado por
Fekete (2008:1):
…the relationship between narration and perspectivity, or rather the subjectivity of ex-
periencing reality (“Subjektabhängigkeit von Wirklichkeitserfahrung”) is especially clear
in the case of multiperspectival narration, because in these narratives several versions
of the same events are presented side by side, and thus in such multiperspectival na-
rratives, the emphasis shifts from the narrated events to the mode of experiencing re-
ality
35.
A multiperspectividade permite ao pesquisador considerar as “dimensiones relacionales, inter-
subjetivas y microsociales”
36
de um fenômeno específico (Larkin et al. 2019: 183). Portanto,
quando o pesquisador doutoral precisa realizar a narrativa de sua pesquisa, concretizada na
tese de doutorado, ele deve abordar e explicar as múltiplas relações que surgiram em sua abor-
dagem ao objeto de conhecimento. São as diversas perspectivas que ele deve compreender,
a partir de uma reflexão sobre o fenômeno investigado.
34
Tradução nossa: la multiperspectividade como uma forma de reconhecimento das diferenças entre os diferen-
tes grupos humanos.
35
Tradução nossa: ...a relação entre narração e perspectividade, ou melhor, a subjetividade da experiência da re-
alidade ('Subjektabhängigkeit von Wirklichkeitserfahrung') é especialmente clara no caso da narração multipers-
pectival, pois nesses relatos várias versões dos mesmos eventos são apresentadas lado a lado, e assim, em tais
narrativas multiperspectivais, o foco se desloca dos eventos narrados para o modo de experimentar a realidade.
36
Tradução nossa: dimensões relacionais, intersubjetivas e microsociais.
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37
Tradução nossa: explica que a multicontextualidade é a habilidade de pensar e funcionar em múltiplos idiomas e lite-
racias, contextos ou estilos cognitivos, a fim de responder às tendências atuais nas esferas econômica, cívica e pessoal.
38
Tradução nossa: …uma perspectiva epistemológica que obstrui e empobrece qualquer tentativa de razão plural e ar-
gumentação transcendente. [Dado que] (…) o olhar disciplinar parece ser uma perspectiva epistemológica restrita e in-
suficiente para enriquecer a ciência com novos valores e aproveitar suas riquezas, pois é uma posição que sufoca os
espaços de compreensão global e de reflexão profunda.
Essa multiperspectividade está vinculada à multicontextualidade. E quando é necessário realizar
uma narrativa, a partir da multiplicidade, inevitavelmente, deve-se considerar o correlato da
multiperspectividade: a multicontextualidade. Isso implica, por um lado, dar conta da existência
de um ente em vários contextos; ou seja, faz referência a diferentes lugares. Esses lugares
podem ser físicos, biológicos, cognitivos, sociais, históricos, linguísticos, e isso não pode ser ne-
gligenciado na narrativa das elaborações doutorais. Por outro lado, uma visão multicontextual
convoca a necessidade de desenvolver a compreensão de que os seres humanos também pos-
suem várias perspectivas, nuances, circunstâncias ou facetas em sua existência que podem se
entrecruzar e, às vezes, parecer contraditórias.
Assim, a partir da multicontextualidade, a elaboração do relatório da pesquisa de doutorado
deve apresentar orientações que expliquem todas essas circunstâncias que cercam as desco-
bertas e a teoria que está sendo apresentada. E nessa orientação, torna-se evidente o que foi
afirmado por Ibarra (como citado em
Valle e Rodríguez, 2012: 8), que: …explains that multi-
contextuality is an ability to think and function in multiple languages and literacies, contexts or
cognitive styles, in order to respond to current trends in economic, civic, and personal spheres”
37
.
Então, deve-se compreender que o multicontextual é uma mistura, uma integração de contextos
diversos e variados, que se inter-relacionam cognitivamente para elaborar uma narrativa. Essas
duas dimensões devem estar presentes na elaboração de uma tese de doutorado. E, conse-
quentemente, a visão discursiva desse ato criativo, baseado em uma pesquisa, será alterada.
A complexidade: critério prevalente na narrativa doutoral
Como introdução a este aspecto, devo destacar que o pesquisador que almeja obter um título de
doutor deve, sem dúvida, modificar sua abordagem cognitiva para lidar com a perspectiva ontológica,
epistemológica e metodológica sobre a lacuna de conhecimento do fenômeno estudado, a partir
da qual orientará a construção de sua narrativa subsequente. Então, surge a pergunta: Como trans-
cender o simplismo metodológico e a construção discursiva linear na pesquisa de nível doutoral?
Em primeiro lugar, é preciso dizer que o pesquisador deve se desvincular e libertar, conforme
(Balza, 2020: 55), de:
…una perspectiva epistemológica que obstruye y empobrece todo intento de razón plural y argu-
mentación trascendente. [Dado que] (…) la mirada disciplinaria luce como una perspectiva epistemo-
lógica restringida e insuficiente para nutrir la ciencia de nuevos valores y poder disfrutar de sus riquezas,
pues es un posicionamiento que ahoga los espacios de comprensión global y de reflexión profunda
38
.
80
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Assim, ao desaprender de maneira consciente, reflexiva e crítica os padrões redutivos de para-
digmas e epistemologias que são intocáveis, imutáveis, - pois a incolumidade, a intangibilidade
não permite o progresso do estatuto científico -, então será possível ter outra visão ao lidar com
o conhecimento sobre o objeto cognoscível. No que diz respeito à ontologia do objeto de con-
hecimento, esta deve ser definida a partir de pares categoriais, em oposição.
Em conformidade com isso,
Contreras (2017: 12) destaca:
Una ilustración de los pares categoriales (…) -sin que se tome como una formulación inalterable-
[los cuales permitirán] realizar una precisión ontológica del objeto de estudio son los siguientes
39
:
Também pode basear-se nas categorias desenvolvidas por Immanuel Kant. O importante é que, a
partir dessa circunstância antipódica, o pesquisador possa selecionar uma categoria de cada par ca-
tegorial e, assim, conseguir definir o objeto de conhecimento, de acordo com a categoria escolhida.
Uma advertência: não se deve confundir a ontologia do objeto de conhecimento com a onto-
logia da pesquisa.
Dessa forma, já não será exclusivamente do referente ontológico do objeto de conhecimento
ou objeto de pesquisa - deixo claro, que faço uma distinção desses significados em relação ao
objeto de estudo, designação própria e adequada para graduação, especialização e mestrado
- com o qual será fundamentado esse objeto cognoscível; ao contrário, a investigação cognitiva
deve situar seu ponto reflexivo na trama teórica, na qual se fazem presentes as "interproblemá-
ticas (…) [que han de ser explicadas, comprendidas, resignificadas, y de hacerse] desde la multi-
perspectividad de posibilidades paradigmáticas y epistemológicas para pensar libremente lo que
se desea conocer" (
Balza, 2020: 53).
Essa é a tarefa intelectiva do pesquisador que deve aplicar, primeiro, em sua abordagem ao objeto
de conhecimento e, segundo, na narrativa de sua tese de doutorado. Deve ser, como foi expresso
supra, parte da poiesis (da criação), mediante a qual pode pintar no quadro cognitivo a formu-
39
Tradução nossa: Uma ilustração dos pares categoriais (...) - sem que seja tomada como uma formulação inalte-
rável - [os quais permitirão] realizar uma precisão ontológica do objeto de estudo são os seguintes:
40
Tradução nossa: interproblemáticas (...) [que devem ser explicadas, compreendidas, resignificadas, e realizadas]
a partir da multiperspectividade de possibilidades paradigmáticas e epistemológicas para pensar livremente o
que se deseja conhecer
Pares categoriales in oppositum
Simples/complexo Abstrato/concreto Finito/infinito Variável/invariável
Real / Ideal (o ideal) Dinâmico / Estático Formal / Informal Possível / Impossível
Permanentemente / Eventual Contínuo / Discontínuo Singular / Plural ... / ...
A pesquisa de doutorado: a narrativa, uma elaboração intelectual
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lação teórica, a falseabilidade de uma teoria, a comparabilidade teórica, a formalização de uma
teoria e, com um critério interdisciplinar - até mesmo transdisciplinar - e complexo, resignificar,
reinterpretar, compreender e/ou explicar teoricamente o fenômeno, objeto de pesquisa.
Nessa visão, chega-se à construção do conhecimento, com a emergência disruptiva de uma
teoria. E, em torno desse termo, deve-se ter em mente que:
Una teoría no es el conocimiento, permite el conocimiento. Una teoría no es una llegada,
es la posibilidad de una partida. Una teoría no es una solución, es la posibilidad de tratar
un problema. Una teoría solo cumple su papel cognitivo, solo adquiere vida, con el pleno
empleo de la actividad mental del sujeto (
Morin et al. 2002: 20)
41
.
No exposto, tem-se como ponto basilar e enfático o valor que se enxerga na elaboração de
uma teoria, a qual permitirá consolidar o conhecimento sobre o objeto próprio da pesquisa de
doutorado. Dessa forma, estaremos pensando em ter uma outra visão sobre o método, o qual
deve permitir reorientar e valorizar, a partir da interdisciplinaridade e da complexidade, a abor-
dagem ao objeto de conhecimento.
Dessa forma, é conveniente, oportuno, necessário e muito importante enfatizar o critério de fun-
damentar toda pesquisa …desde la multirreferencialidad y [desde] la interproblematicidad subya-
cente en el sintagma relacional (…) hacia una fusión de horizontes del conocimiento para el encuentro
con lo transdisciplinario
42
(Balza, 2010, citado por Balza, 2020: 58), de modo a permitir uma expli-
cação/compreensão ou uma compreensão/explicação, assim como uma hermenêutica diatópica
e ecosófica, dos fenômenos que fazem parte da consciência e do interesse do pesquisador.
Assim, reforça-se, confirma-se, enfatiza-se que "...a teoria não é nada sem o método, a teoria
quase se confunde com o método ou, melhor, teoria e método são os dois componentes in-
dispensáveis do conhecimento complexo"
43
(Morin et al. 2002: 21)
43
. Portanto, o pesquisador
deve transcender o simplismo metodológico e a construção discursiva linear, que poderiam
caracterizar seu trabalho de pesquisa de doutorado, para explorar novos caminhos, novos ho-
rizontes epistemológicos e transontológicos, os quais devem ser redimensionados a partir e
em uma nova realidade fenomênica transteórica, transteorizadora e até mesmo transdisciplinar,
41
Tradução nossa: Uma teoria não é o conhecimento, permite o conhecimento. Uma teoria não é uma chegada, é
a possibilidade de uma partida. Uma teoria não é uma solução, é a possibilidade de tratar um problema. Uma
teoria só cumpre seu papel cognitivo, só adquire vida, com o pleno uso da atividade mental do sujeito (Morin et
al. 2002: 20).
42
Tradução nossa: a partir da multirreferencialidade e [da] interproblematicidade subjacente no sintagma relacio-
nal (...) em direção a uma fusão de horizontes do conhecimento para o encontro com o transdisciplinar.
43
Tradução nossa: ...a teoria não é nada sem o método, a teoria quase se confunde com o método ou, melhor,
teoria e método são os dois componentes indispensáveis do conhecimento complexo.
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a partir da interdisciplinaridade. E deve ser assim, pois, na atualidade: "Definitivamente, vivimos
atrapados en una cultura investigativa disciplinaria y monometódica para la construcción de la
ciencia…"
44
(A. M. Balza Laya, comunicação pessoal, em Pinceladas transdisciplinarias, 18 de ou-
tubro de 2022
).
Com essas premissas, quando se trata de uma pesquisa de doutorado, deve haver uma recon-
figuração intelectual diferente. Nisso, é importante a visão transformadora e de pensamento
complexo que o orientador da tese (tutor) deve ter para apoiar as ideias do pesquisador, aspi-
rante a doutor. Portanto, como afirma
Balza (2020: 54):
…un candidato a doctor, o un doctor en formación debe ser un investigador permanente,
un internauta, un crítico, un hermeneuta dialéctico para abordar (sic) la realidad; transitarla
desde sus pensamientos y, de este modo, poder viajar de lo simple a lo complejo, de lo
disciplinario a lo transdisciplinario, de la certeza a la incertidumbre; es decir, movilizarse
desde la lógica científica formal hacia una nueva lógica cognitiva de naturaleza relacional
y reconfiguracional
45
.
Sem a crítica, sem a visão transformadora da ciência, sem o apego à dialética como estratégia
discursiva e reflexiva, não haverá possibilidade de abandonar os limites de uma lógica linear, -
cujo uso não está deslocado -, mas que apenas servirá como impulso para suscitar a emergência
de "una nueva lógica cognitiva de naturaleza relacional y reconfiguracional"
46
(Balza, 2020: 99).
Portanto, é necessário formar um entendimento profundo sobre a transformação epistemológica
e seus métodos correspondentes. Morin et al. (2002: 26) acrescentam: "El método es también
un ejercicio de resistencia espiritual organizada, que como quería Adorno, implica un ejercicio per-
manente contra la ceguera y el anquilosamiento generado por las convenciones y clichés acuñados
por la organización social".
Nessa abordagem, subjaz a ideia da religação espiritual que diz respeito ao método, mas tam-
bém deve se articular com o conhecimento. E, a esse respeito, é válido mencionar o pensamento
de
Bacon (1625: 1), expresso da seguinte forma: “It is true, that a little Philosophy inclineth man's
44
Tradução nossa: Definitivamente, vivemos presos em uma cultura investigativa disciplinar e monométodica para
a construção da ciência.
45
Tradução nossa: ...um candidato a doutor, ou um doutor em formação, deve ser um pesquisador permanente, um in-
ternauta, um crítico, um hermeneuta dialético para abordar (sic) a realidade; atravessá-la a partir de seus pensamentos
e, dessa forma, poder viajar do simples ao complexo, do disciplinar ao transdisciplinar, da certeza à incerteza; ou seja,
movimentar-se da lógica científica formal para uma nova lógica cognitiva de natureza relacional e reconfiguracional.
46
Tradução nossa: uma nova lógica cognitiva de natureza relacional e reconfiguracional.
47
Tradução nossa: O método é também um exercício de resistência espiritual organizada, que, como Adorno de-
sejava, implica um exercício permanente contra a cegueira e o enrijecimento gerado pelas convenções e clichês
cunhados pela organização social.
A pesquisa de doutorado: a narrativa, uma elaboração intelectual
matizada pela interdisciplinaridade e complexidade
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Revista Digital de Investigación y Postgrado, 5(9), 63-86
ISSN electrónico: 2665-038X
mind to atheism; but depth in Philosophy, bringeth men's minds about to Religion”
48
. Assim sendo,
o pesquisador não deve esquecer uma das características inerentes à sua condição de ser hu-
mano: a religação. Esse elo ou vínculo que existe com um Ser Supremo, seja qual for a denomi-
nação.
Portanto, o pesquisador envolvido em estudos de doutorado e todos aqueles que espreitam
pela fresta do conhecimento, por meio de processos dialéticos complexos, interdisciplinares e
metodológicos, devem ter uma visão disruptiva epistemológica para construir conhecimento.
Em conformidade com isso, como afirma Méndez (2003, citado por
Balza, 2020: 99):
…el aspirante a doctor debe situarse en los limites explicativos, interpretativos o predictivos
de las teorías, paradigmas, metodologías y campos disciplinarios existentes en torno al
problema o problemáticas estudiadas, para que pueda superarlas generándose saltos cua-
litativos en el conocimiento científico
49
.
Com essa visão, o método deve ser valorizado como apoio e como obra de um ser inteli-
gente que experimenta estratégias, fundamentando-se em novas epistemologias, de modo
que possa responder à multiplicidade de questionamentos que fazem parte das incertezas.
Assim, deve libertar-se da rigidez, do manualismo e do enquadramento estabelecido para
compreendê-lo e operacionalizá-lo com uma nova perspectiva. Não há, portanto, uma única
maneira de compreender a incerteza, e menos ainda se for pensada como algo programá-
tico.
Nesse sentido, reduzir o método a um programa é acreditar que existe uma forma a
priori para eliminar a incerteza. Método é, portanto, aquilo que serve para aprender e
ao mesmo tempo é aprendizado. É o que nos permite conhecer o conhecimento. Por
tudo isso, como afirmava Gaston Bachelard, todo discurso do método é um discurso de
circunstâncias. Não existe um método fora das condições em que se encontra o sujeito.
(
Morin et al. 2002: 25)
50
.
48
Tradução nossa: É verdade que um pouco de filosofia inclina a mente do homem ao ateísmo; no entanto, a profundi-
dade na filosofia faz com que as mentes dos homens se voltem para a religião.
49
Tradução nossa: O aspirante a doutor deve situar-se nos limites explicativos, interpretativos ou preditivos das
teorias, paradigmas, metodologias e campos disciplinares existentes em torno do problema ou problemáticas es-
tudadas, para que possa superá-las, gerando saltos qualitativos no conhecimento científico.
50
Tradução nossa: Nesse sentido, reduzir o método a um programa é acreditar que existe uma forma a priori para
eliminar a incerteza. Método é, portanto, aquilo que serve para aprender e ao mesmo tempo é aprendizado. É o
que nos permite conhecer o conhecimento. Por tudo isso, como afirmava Gaston Bachelard, todo discurso do mé-
todo é um discurso de circunstâncias. Não existe um método fora das condições em que se encontra o sujeito.
(Morin et al. 2002: 25).
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De tudo isso, e com a intencionalidade de uma cogitação provisória e contingencial, pode-se
dizer que é conveniente, oportuno e necessário transcender a simplicidade no uso de um mé-
todo e na construção linear discursiva da pesquisa no nível de doutorado; portanto, para alcan-
çar essa transcendência, a ciência deve ser enfrentada com uma mente aberta, reflexiva e de
confronto cognitivo com e a partir do objeto cognoscente. Dessa forma, pode-se assumir uma
epistemologia disruptiva para realizar a pesquisa que desestabilize o estatuto que teve primazia
na realização das pesquisas de doutorado. É necessário compreender outros sintagmas relacio-
nais, discursivos, dilectantes, complexos e transdisciplinares, para irromper com novas formas
discursivas que se entrelaçam na poliangularidade linguística.
E, finalmente, é imperativo compreender a elaboração de um discurso caracterizado e apoiado
pela interdisciplinaridade e complexidade. Além disso, é necessário uma avaliação diferente tanto
do ontológico quanto do epistemológico, assim como do metodológico, de acordo com as exi-
gências das novas epistemologias emergentes.
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